Por Laís Lamar Rodrigues Silva
Fonte: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2021/agosto/ministerio-da-saude-distribui-mais-10-4-milhoes-de-doses-de-vacinas-covid-19-neste-fim-de-semana |
Como dito em nossa Retrospectiva Científica de 2021, a corrida pelas vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 vem sendo uma prioridade desde 2020. Nesse texto, iremos falar um pouco sobre cada uma das vacinas atualmente disponíveis no Brasil (a CoronaVac, a AstraZeneca, a Pfizer e a Janssen), e discutiremos um pouco sobre como o negacionismo com relação às vacinas afeta toda a população nesse momento crítico e delicado que vivemos com essa pandemia.
A CoronaVac
A CoronaVac (também conhecida como SinoVac) é desenvolvida pela companhia biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotech, e utiliza o vírus SARS-CoV-2 inativado. Em julho de 2020, a Sinovac começou a testar a vacina, em parceria com o Instituto Butantan, na terceira fase de testes (já iniciados em abril de 2020, na China). No Brasil, os testes foram feitos em 8.870 profissionais de saúde com idades entre 18 e 59 anos de seis estados do Brasil, e se expandiram em setembro de 2020, para 4.190 profissionais de saúde voluntários (totalizando 13.060 voluntários em 16 centros de pesquisa). Os testes feitos no Brasil mostraram 50,7% de eficácia na prevenção de infecções sintomáticas (porcentagem que aumentou para 62,3% com um intervalo de 21 dias ou mais entre as doses), e 83,7% de eficácia na prevenção de casos leves que precisam de tratamento. Segundo a Sinovac, foi mostrada uma eficácia de 50,65% contra todos os casos sintomáticos, 83,7% contra casos que necessitam de tratamento médico, e 100% contra casos graves, hospitalizados e fatais. A taxa de eficácia relativamente baixa de aproximadamente 50% se deu pelo fato de que os testes foram realizados, em grande parte, em profissionais de saúde de linha de frente, mais expostos ao vírus.
Em um estudo conduzido em Serrana-SP, os resultados preliminares mostraram, depois de 75% da população adulta ser vacinada com a CoronaVac, que os casos fatais caíram em 95%, hospitalizações caíram em 86%, e casos sintomáticos caíram em 80%. De acordo com o pesquisador Ricardo Palacios, ex-diretor de pesquisas clínicas do Instituto Butantan, “o resultado mais importante foi entender que podemos controlar a pandemia mesmo sem vacinar toda a população (...) A queda na incidência foi percebida até no grupo que ainda não tinha completado o esquema vacinal”. Ainda segundo o pesquisador, “nós conseguimos satisfazer a vontade das pessoas de retomarem suas vidas quando a vacina é ofertada. Isso nos gera uma luz de esperança".
A CoronaVac tem autorização completa para uso na China, e autorização emergencial em mais 71 países, incluindo o Brasil.
A Oxford/AstraZeneca
A vacina Oxford-AstraZeneca é desenvolvida no Reino Unido, pela Universidade de Oxford e pelo conglomerado farmacêutico anglo-sueco AstraZeneca. A vacina utiliza o vetor adenoviral ChAdOx1, desenvolvido pelo Instituto Jenner da Universidade de Oxford, que vem de um adenovírus (agentes infecciosos de tamanho médio, sem envelope, com DNA de cadeia dupla) de chimpanzé modificado, que evita a replicação do vírus. No Brasil, os testes foram realizados em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e Bio-Manguinhos (Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos).
Os testes clínicos da vacina começaram sua fase I na Europa, em 23 de abril de 2020. Em 23 de novembro de 2020, foi anunciado que nenhuma hospitalização ou casos graves da doença foram relatados em participantes que receberam a vacina, nos testes de fase II e III, incluindo 23 mil pessoas no Reino Unido e no Brasil. A eficácia da vacina, segundo estudos feitos em 2020, é de 76% em infecções sintomáticas começando 22 dias após a primeira dose e 81,3% após a segunda dose. E, segundo um estudo feito na Escócia, a vacina para infecções sintomáticas após a segunda dose tem eficácia de 81,3% contra a variante Alpha e 61% contra a variante Delta.
A primeira vacina aplicada fora dos testes foi administrada em 4 de janeiro de 2021. Os países com autorização completa para o uso da vacina são: Canadá, Brasil, Austrália e Índia. Mais 170 países têm autorização para uso emergencial da vacina.
A Pfizer
A vacina Pfizer - BioNTech é desenvolvida pela companhia alemã de biotecnologia BioNTech, com a colaboração da companhia americana Pfizer. A vacina é composta por uma sequência de RNA mensageiro (mRNA, o RNA responsável pela transferência de informações do DNA até o citoplasma) sintético, codificando a proteína “spike” (estrutura encontrada na superfície do envelope viral das partículas virais de vírus como o SARS-CoV-2, constituída de glicoproteínas e lipídios), envolta por nanopartículas lipídicas.
Os testes clínicos da vacina começaram em abril de 2020, e a vacina entrou na fase III em novembro, com mais de 40.000 voluntários. A análise dos dados preliminares mostram uma eficácia de 91,3% na prevenção de infecções sintomáticas após a segunda dose. O Reino Unido foi o primeiro país a usar a vacina emergencialmente, em 08 de dezembro de 2020, e cerca de sete dias depois, a mesma foi autorizada nos Estados Unidos, México, Bahrein, Canadá e Arábia Saudita, e em 21 de dezembro na União Europeia.
O uso definitivo da vacina foi autorizado primeiramente no dia 19 de dezembro de 2020, na Suíça, e no dia 23 de setembro de 2021, países como Estados Unidos, Brasil, Canadá, Nova Zelândia e Arábia Saudita aprovaram o uso definitivo da Pfizer. Outros países com uso definitivo são: Austrália, Ilhas Marshall, Micronésia e Palau.
A Janssen
A vacina Janssen (ou vacina Johnson & Johnson), é desenvolvida pela companhia de biotecnologia Janssen Vaccines, em Leiden, Holanda, e pela sua contraparte belga de fármacos, a Janssen Pharmaceuticals, uma subsidiária da companhia americana Johnson & Johnson. A vacina consiste em um vetor viral baseado em um adenovírus humano, que é modificado para evitar a replicação dos genes spike (assim como na AstraZeneca e na Pfizer). O sistema imunológico do corpo responde à proteína estrutural do vírus, para produzir anticorpos. Diferente das outras vacinas citadas, a Janssen precisa apenas de uma dose.
Os testes clínicos da vacina começaram em junho de 2020, e os testes na fase III envolveram cerca de 43 pessoas. Em 29 de janeiro de 2021, a companhia anunciou que, num ciclo de 28 dias após a vacinação, a vacina tem 66% de efetividade para prevenir infecções sintomáticas, e 85% de eficácia na prevenção de casos graves, além de 100% de eficácia na prevenção de hospitalizações e mortes. Ainda que não haja evidência da necessidade de uma segunda dose, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomendou, em 21 de outubro de 2021, a aplicação de uma dose extra. A vacina tem eficácia comprovada para a variante delta em casos graves até críticos (71%), para a variante alpha em casos assintomáticos (74%, com variações entre 65% e 82%) e para a variante beta em casos moderados a graves (64%, com variações entre 41% e 79%) e casos graves a críticos (82%, com variações entre 46% e 96%).
A Janssen possui autorização para aplicação completa na Austrália (embora não utilizada), no Canadá e na Suíça, e autorização para uso emergencial em 126 países, entre eles alguns países da América do Sul, como Brasil, Bolívia, Argentina e Chile. O uso da vacina foi descontinuado na Dinamarca, Finlândia e Noruega, devido a uma possível ligação entre a vacina e um distúrbio raro de coagulação sanguínea.
O negacionismo e seus efeitos
É fácil perceber como as vacinas contra a COVID-19 representam uma possível melhora nos casos e mortes pela doença. Observando o gráfico abaixo, podemos notar que há um grande aumento de casos recuperados, desde o início da aplicação das vacinas, e pouco aumento no número de óbitos pela doença.
Total de casos (confirmados e recuperados) e mortes pela COVID-19 no Brasil. Fonte: Gazeta do Povo |
Infelizmente, algo recorrente desde o início das vacinações é o negacionismo de uma parcela da população (os chamados antivax), que acabam espalhando notícias e informações falsas sobre as vacinas, fazendo com que outras pessoas pensem que a imunização pode trazer problemas no futuro. Esses negacionistas dizem coisas como chips que são implantados nos vacinados, doenças que podem ser desenvolvidas e até mesmo dizem que as vacinas causam autismo (o que representa, inclusive, um preconceito preocupante às pessoas neurodivergentes). E, mais problemático ainda, o negacionismo é inspirado por figuras de poder, no mundo inteiro, que fazem parecer que as vacinas são as vilãs durante essa pandemia, quando são nossa única chance de esperança nesse triste cenário que vivemos desde 2020.
Esse negacionismo é um grande problema agora, quando a vacinação nas crianças começa. Pais que se recusam a vacinar seus filhos já causam grande mortalidade infantil, com doenças que, com a vacina, tem uma chance mínima de causar óbitos. Um exemplo disso é o sarampo, que pode causar até três mortes a cada mil casos em crianças, sem a vacinação. É recorrente, na mídia, ver séries de televisão relacionadas à medicina que expõem essa questão. Um exemplo é o segundo episódio da primeira temporada da série House, M.D., que mostra um flashback de uma mãe que leva um bebê com sarampo, sem qualquer vacina, e o protagonista da série discorre sobre a importância da vacina.
Dessa forma, notamos como é necessário pensar sobre como o negacionismo pode afetar uma população inteira, e também como é essencial não acreditar em todas as notícias espalhadas pela internet e portais de comunicação, uma vez que essas podem ser falsas e causar problemas. E, para encerrar esse texto, lembrem-se: cuidem-se, usem máscaras ao sair e vacinem-se. Quanto mais cuidados, mais perto estaremos de um fim nessa pandemia.
Fontes:
https://en.wikipedia.org/wiki/CoronaVac
https://en.wikipedia.org/wiki/Oxford%E2%80%93AstraZeneca_COVID-19_vaccine
https://en.wikipedia.org/wiki/Pfizer%E2%80%93BioNTech_COVID-19_vaccine
https://en.wikipedia.org/wiki/Janssen_COVID-19_vaccine
https://especiais.gazetadopovo.com.br/coronavirus/numeros/
0 Comentários