Por Ana Caroline de Abreu Alves e Laís Lamar Rodrigues Silva
Fontes: Nilklas Elmehed; https://horadopovo.com.br/entidades-condenam-corte-de-4227-no-investimento-em-ciencia/; Getty Images; NASA/JPL |
Vacinas
A pandemia da COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, causou desespero na população mundial. Desde o início dos casos, a busca por uma vacina eficaz foi uma prioridade, e vários cientistas se colocaram à prova, numa corrida que tem como prêmio o bem-estar e a saúde da comunidade.
No Brasil, com o aumento dos casos e mortes pela enfermidade, as vacinas se tornaram sinônimo de esperança. Profissionais de saúde, atuantes na linha de frente, foram os primeiros a serem vacinados. O calendário seguiu para a imunização dos mais idosos, e logo para os portadores de comorbidades e o público em geral. Agora, já na terceira dose, podemos recuperar as esperanças em superar essa pandemia. No Brasil, são distribuídas quatro vacinas: a CoronaVac, a AstraZeneca, a Pfizer e a Janssen. E, num sucesso que trouxe ainda mais felicidade para a população, no início do ano de 2022 se iniciou a vacinação em crianças no Brasil, o que pode trazer dias melhores cada vez mais rápido. Atualmente, o Brasil é o 4º país com mais pessoas vacinadas no mundo, e já aplicou mais de 315 milhões de doses (até dezembro de 2021).
Infelizmente, ainda vemos muito negacionismo com relação às vacinas, o que é estranho, considerando que o Brasil possui o maior e mais completo programa de vacinação do mundo, o PNI (Programa Nacional de Imunizações). De forma perigosa, a figura que mais proporcionou esse negacionismo foi o presidente da República, que por muitas vezes foi exemplo do desprezo às medidas de saúde pública, além de espalhar diversas notícias falsas. Ainda assim, apesar das tentativas de negacionistas, grande parte da população está buscando a imunização, o que representa uma vitória dos cientistas e um rumo à esperança por dias melhores.
Os cortes na ciência
Mas, ainda com a vitória dos cientistas com relação à vacina, é recorrente a derrota com relação ao financiamento das pesquisas. Num ano complicado, a ciência sofreu um baque. No dia 8 de outubro de 2021, o Ministério da Ciência e Tecnologia sofreu um corte de verbas imenso, de 92%, devido à aprovação do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 16/21. Os recursos, já escassos para a pesquisa científica e tecnológica, caíram de R$ 690 milhões para R$ 55 milhões, o que pode fazer com que estudos já iniciados sejam suspensos pela falta de investimento, bolsas sejam perdidas, e a ciência seja mais desvalorizada pelo governo, afetando o desenvolvimento do país.
Questionado sobre a aprovação do PLN 16/21, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, afirmou ter sido surpreendido com os cortes. Segundo o ministro, o corte de verbas não afeta o pagamento de bolsas existentes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mas, se o corte for tão alto, ocorrerá a suspensão do Edital Universal do CNPq, um dos mais importantes do Brasil. A falta de posicionamento e informação sobre os cortes do ministro Marcos Pontes nos dá a impressão de que a ciência brasileira é deixada de lado, e que as decisões são feitas sem o consentimento e influência dos que serão mais afetados por elas.
Recursos para a ciência não são gastos, e sim investimentos. Como podemos manter os pesquisadores no Brasil, se não há orçamento para as pesquisas? Com esse enorme corte de verbas, a chamada “fuga de cérebros” é inevitável, e faz com que pareça que ainda estamos em uma nação em desenvolvimento, como nas regiões que já sofreram essa fuga. Já é comum que pesquisadores brasileiros decidam não continuar no país, principalmente com a desvalorização que sofrem pela sociedade que vê a ciência como um “gasto desnecessário”. Além do corte afetar as áreas de pesquisa científica e tecnológica, a saúde brasileira será afetada, uma vez que isso causará uma defasagem na pesquisa de fármacos e equipamentos médicos. O corte no orçamento científico é inconstitucional, e afetará a sociedade como um todo.
Marte e o robô Perseverance
O ser humano sempre foi movido pela curiosidade, e grandes invenções e descobertas aconteceram devido a isso. O universo ainda nos traz esse sentimento, e apesar das diversas descobertas atualmente, ainda há muito que não entendemos e sabemos. Para isso foi criada a missão Mars 2020, que tem como objetivo buscar vestígios de vida em Marte.
No dia 30 de julho de 2020, o robô explorador Perseverance (que, em português, significa perseverança), da Nasa, partiu da Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, na Flórida. Ele é o robô mais avançado enviado a Marte, e carrega instrumentos que vão coletar amostras, observar a geologia e transformar dióxido de carbono em oxigênio para viabilizar uma missão com humanos no planeta. Além disso, ele tem um pequeno helicóptero acoplado a si, com hélices que giram 8 vezes mais rápido que um helicóptero comum.
Em 18 de fevereiro de 2021, o Perseverance pousou na superfície de Marte, especificamente na cratera Jezero, local em que os cientistas acreditam que havia um lago entre 3 e 4 bilhões de anos atrás. Com sedimentos similares aos encontrados na Terra, a esperança de encontrar vestígios de organismos é grande. Através dessa missão, Marte também será fortemente fotografado, para assim nos trazer informações sobre sua geologia e clima.
Aqui estão listadas algumas das descobertas e feitos dessa missão:
- 20 de abril: o robô conseguiu extrair oxigênio de Marte pela primeira vez, através de um instrumento que extrai o gás a partir do dióxido de carbono presente na atmosfera do planeta.
- 2 a 8 de setembro: foram coletadas, com sucesso, as primeiras das mais de 30 amostras do solo marciano.
- 7 de outubro: foi publicado um estudo na revista Science, que usou as imagens feitas pelo robô que comprovam não só a existência do lago, mas também que ele era alimentado por um rio.
As amostras coletadas pela missão voltarão à Terra em missões a partir de 2030, para que possam ser feitos estudos sobre sua composição e em busca de evidências de vida, mesmo que microscópicas.
Prêmio Nobel de Medicina
Na primeira semana de outubro ocorreu uma das maiores premiações para trabalhos, pesquisas e ações em benefício da humanidade, o Prêmio Nobel, começando no dia 4, segunda-feira, com o anúncio dos ganhadores de 2021 na área de Fisiologia e Medicina. Anunciados pela Assembleia do Nobel no instituto Karolinska, da Suécia, os laureados foram David Julius, professor da Universidade da Califórnia em São Francisco, e Ardem Patapoutian, cientista e professor na Scripps Research (Califórnia), e pesquisador do instituto Médico Howard Hughes (Maryland). Eles ganharam o prêmio devido a suas descobertas sobre receptores de temperatura e toque no corpo humano, nos explicando como o calor, o frio e o toque podem iniciar sinais em nosso sistema nervoso. Ambos irão dividir um prêmio de cerca de 10 milhões de coroas suecas (6,1 milhões de reais).
O funcionamento do corpo humano sempre foi um objeto de curiosidade para a humanidade, e até hoje não é possível entender tudo. Sentir temperaturas, toques e movimentos, é de grande importância para nossa sobrevivência e adaptação às mudanças constantes do meio em que vivemos. Sendo assim, os laureados de 2021 nos mostraram como nossos nervos iniciam esses impulsos para que possamos sentir o mundo ao nosso redor, identificando elos essenciais que faltavam na nossa compreensão desta complexa interação.
David Julius utilizou um composto da pimenta malagueta, a capsaicina, a fim de induzir uma sensação de queimação e assim identificar um sensor nas terminações nervosas da pele que respondem ao calor. Enquanto que Ardem Patapoutian usou células sensíveis à pressão para descobrir sensores que respondem a estímulos mecânicos na pele e órgãos internos.
Essas descobertas revolucionárias desencadearam diversas pesquisas e aumentaram muito nossa compreensão de como o corpo humano sente calor, frio e estímulos mecânicos. Inclusive está sendo usada para desenvolver tratamentos para diversas doenças e dores crônicas.
Prêmio Nobel de Física
No dia 5 de outubro de 2021, a Academia Sueca de Ciências anunciou os ganhadores do Prêmio Nobel 2021, em Física. Os laureados com o Prêmio foram o meteorologista e o climatologista nipo-estadunidense Syukuro Manabe, pioneiro no uso de computadores para criar sistemas numéricos, que simulam mudanças climáticas globais e variações naturais do clima, o oceanógrafo e modelador climático alemão Klaus Hasselmann, conhecido pelo desenvolvimento do modelo de Hasselmann de variabilidade climática, e o físico teórico italiano Giorgio Parisi, conhecido pelas equações de Altarelli-Parisi e a solução exata do modelo de Sherrington e Kirkpatrick de vidros de Spin.
Totalizando 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,1 milhões), metade do prêmio será dividido por Syukuro Manabe e Klaus Hasselmann, "pela modelagem física do clima da Terra, quantificando a variabilidade e prevendo com segurança o aquecimento global", e o restante irá para Giorgio Parisi, "pela descoberta da interação de desordem e flutuações nos sistemas físicos das escalas atômicas às planetárias", por suas "soluções teóricas para uma vasta gama de problemas na teoria de sistemas complexos”. Os três cientistas contribuíram imensamente para o entendimento dos sistemas físicos complexos, como o clima da Terra.
As contribuições de Syukuro Manabe permitem testar a relação entre o aumento de CO2 na atmosfera e o aumento da temperatura, o que mostrou a importância de reduzir as emissões de CO2. Klaus Hasselman notou a possibilidade de implementar as mudanças aleatórias que ocorrem nas variáveis atmosféricas aos modelos de previsão climática, criando um modelo inspirado na teoria do movimento browniano de Albert Einstein, além de desenvolver um método que identifica o impacto humano no sistema climático. E Giorgi Parisi compreendeu e descreveu matematicamente os padrões existentes em materiais complexos e desordenados, o que contribui para áreas como Física, Matemática, Biologia e Neurociência.
Segundo o presidente do Comitê do Nobel de Física, Thors Hans Hansson, “as descobertas reconhecidas este ano demonstram que o nosso conhecimento sobre o clima tem alicerce numa base científica sólida, baseada numa análise rigorosa das observações. Todos os laureados deste ano contribuíram para que obtivéssemos uma visão mais profunda das propriedades e da evolução de sistemas físicos complexos”.
Prêmio Nobel de Química
Os ganhadores do Prêmio Nobel de Química foram anunciados, pela Academia Real Sueca de Ciências, no dia 6 de outubro de 2021. Os laureados com o prêmio foram o alemão Benjamin List, diretor do Instituto Max Planck para Pesquisa com Carvão, e o britânico David MacMillan, pesquisador da Universidade de Princeton (Estados Unidos), pelo desenvolvimento da organocatálise assimétrica, uma ferramenta engenhosa capaz de construir moléculas. A invenção trouxe diversos benefícios e avanços para a área farmacêutica e está tornando a química mais verde.
Mas para entendermos melhor do que se trata a pesquisa, vamos entender o que são catalisadores. Cada reação química tem sua velocidade de reação (geralmente bem lenta) e necessita de uma certa quantidade de energia para ser ativada. Os catalisadores, normalmente metais ou enzimas, são substâncias usadas durante uma reação química para controlar e aumentar sua velocidade, diminuindo a energia de ativação da reação, mas sem impactar o produto final.
Voltando à organocatálise assimétrica, Bejamin List e David MacMillan a desenvolveram de forma independente no início dos anos 2000. Os catalisadores orgânicos tem uma estrutura estável de átomos de carbono, aos quais grupos químicos mais ativos (em geral contendo fósforo, oxigênio, nitrogênio ou enxofre) podem se ligar, os tornando ecologicamente corretos e baratos de se produzir. Quando moléculas estão sendo construídas, elas podem se formar de duas maneiras diferentes, sendo uma contrária a outra, como um reflexo no espelho. Mas geralmente apenas uma delas é necessária, principalmente na produção de farmacêuticos, pois apesar de apenas estarem viradas para lados diferentes, elas podem ter reações distintas. Devido a isso a organocatálise teve uma grande expansão, com diversos novos pesquisadores pelo mundo, já que ela tem a capacidade de conduzir uma catálise assimétrica.
Os laureados do ano de 2021, ainda são pioneiros nessa área, e continuam mostrando que ela pode ser usada em diversas reações químicas. Ambos irão dividir igualmente, um prêmio de 9 milhões de coroas suecas (equivalente a 5,6 milhões de reais). Atualmente, a ferramenta criada por eles já vem sendo usada em diversos produtos químicos e farmacêuticos, que são construídos de uma maneira mais eficiente e sustentável. Assim, os organocatalisadores estão trazendo um grande benefício para a humanidade. E como disse o anunciador do prêmio Nobel, o professor e secretário geral da Academia Real Sueca de Ciências Göran K. Hansson, “Construir moléculas é uma arte!”.
O Telescópio Espacial James Webb
Com poucos dias para acabar o ano, no dia 25 de dezembro de 2021, foi lançado o telescópio espacial James Webb, desenvolvido pela Nasa e outras agências espaciais. Ele será capaz de detectar radiação infravermelha que viajou no espaço por 13,6 bilhões de anos-luz, para assim poder investigar eventos que aconteceram logo após o Big Bang (até 100 milhões de anos após). O sucessor do telescópio Hubble tem como objetivo mostrar coo eram as primeiras galáxias e estrelas, além de nos mostrar buracos negros, supernovas e todo tipo de objeto cósmico.
O telescópio é o maior já lançado ao espaço, com um espelho principal de 6,5 metros de diâmetro. Devido a isso, ele não cabia no foguete e teve de ser enviado dobrado. Ele vai se desdobrar lentamente até atingir sua configuração final, há cerca de 1,5 milhão de quilômetros da Terra, na órbita L2 (segundo ponto de Lagrange), orbitando o Sol e alinhado com a Terra. Após o lançamento, o telescópio está passando por diversas etapas antes de realmente começar a funcionar.
Até o momento, o telescópio já ativou seu painel solar, ativou a antena para comunicação com a Terra e nessa segunda, dia 24 de janeiro de 2022, chegou ao seu destino final. Apesar de já estar na órbita L2, suas ativações irão ocorrer lentamente, iniciando seu funcionamento apenas em cerca de 5 meses. Para saber mais sobre o James Webb, temos também neste link outro texto sobre ele.
Fontes:
https://www.gov.br/saude/pt-br/vacinacao/
https://www.cartacapital.com.br/politica/congresso-aprova-corte-de-92-de-recursos-da-ciencia/
https://ufrj.br/2021/10/nota-sobre-corte-de-92-de-recursos-em-ciencia-tecnologia-e-inovacao/
https://www3.unicentro.br/petfisica/2021/10/28/premio-nobel-de-fisica-2021-sistemas-complexos/
https://en.wikipedia.org/wiki/Giorgio_Parisi
https://en.wikipedia.org/wiki/Klaus_Hasselmann
https://en.wikipedia.org/wiki/Syukuro_Manabe
https://gizmodo.uol.com.br/telescopio-james-webb-entra-na-orbita-do-sol-na-segunda-feira-24/
https://super.abril.com.br/ciencia/telescopio-james-webb-podera-quase-enxergar-o-comeco-do-universo/
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