Por Marcus Vinicius do Prado

Figura 1: Reconstrução da chamada Máquina de Anticítera, um artefato conhecido como o computador mais antigo. Louisa Gouliamaki/AFP

Cientistas de universidades da Inglaterra e Catar estão dando novos passos para resolver os mistérios do mecanismo de Anticítera, nome dado ao computador mecânico grego encontrado na ilha de Anticítera, Grécia, datado como feito por volta do século 2 a.e.c. Foi criado para realizar previsões de ciclos astronômicos através da rotação de suas engrenagens cuidadosamente colocadas de tal maneira que, após os fragmentos que restaram serem analisados por técnicas avançadas como Tomografia Computadorizada Microfocal por raios X (TCrX) e Mapeamento de Textura Polinomial (MTP), sua recriação por meio de modelos ainda são imprecisos. Essa incerteza que permeia a real forma do mecanismo, é decorrência das partes que se perderam no tempo quando ela ainda estava escondida de nós.

Várias tentativas de reconstrução foram feitas, mas, somente a parte traseira conseguiu ser devidamente reconstruída, e mostrou que o mecanismo conseguia prever eclipses além de fazer correções para a anomalia dos ciclos da lua. Nenhuma das reconstruções foi fiel também em descrever o Cosmo do ponto de vista da época, ou seja, como era visto o universo lá fora com o Sol, as estrelas, a lua e os outros cinco planetas até então conhecidos.

O principal desafio do grupo de Freeth foi na criação de um novo modelo do Cosmo da época, em que esteja de acordo com as evidências disponíveis nas inscrições que estão presentes nos pedaços restantes. O novo modelo é descrito no artigo como radical aos outros e entra em concordância com os dados disponíveis.


As técnicas TCrX e MTP usadas para examinar minuciosamente os fragmentos em 2005, revelaram inscrições descrevendo os planetas e a visão dominante do universo do ponto de vista grego. Imagens dos restos das inscrições presentes nas partes chamadas de Capa frontal (Front Cover) e Capa traseira (Back Cover), são mostradas na Figura 2.


Figura 2: (a) Representação em 3D de como seria o mecanismo pronto; (b) Fotografias dos restos com as inscrições do mecanismo original.


 A Capa traseira revela o que seria o modelo do Cosmo, arranjado por anéis com planetas marcados como “pequenas esferas” e o sol como “pequena esfera dourada”. Tudo isso descrito como Planetarium. Para a Capa Frontal, existem os ciclos sinódicos dos planetas (são os ciclos relativos ao sol), e esses ciclos foram a base para previsões planetárias durante a era astronômica da Babilônia. 

A astronomia babilônica não era capaz de prever corretamente os ciclos sinódicos de Vênus e Saturno, mas as relações dos períodos para esses planetas nas inscrições do mecanismo mostraram que elas foram incorporadas. Isso significa que os gregos da época conseguiram prever os ciclos com maior precisão no mecanismo, através de grande engenhosidade no design de suas engrenagens. Essa era uma parte que faltava explicar.

Os pesquisadores conseguiram a partir de uma explicação a qual envolvia diálogos com Parmênides de Elea, no que foi chamado por Platão de Proposição de Parmênides. O artigo vai a fundo explicando o embasamento teórico por trás do trabalho e mostrou uma figura maravilhosa da representação computadorizada em 3D de como seria o mecanismo em seu estado final (Figura 3), logo após ter sido construído.


Com pedras semipreciosas nos anéis planetários, a riqueza de detalhes da visão do Cosmo pelos gregos é fascinante. A própria concepção de uma máquina desse tipo já quebra dogmas e paradigmas do que sabemos sobre a capacidade de civilizações antigas.


Figura 3: Renderização  de como seria na parte da frente do mecanismo e concepção do Cosmo na época.                 


O Mecanismo de Anticítera não foi completamente desvendado e podemos nunca compreender por completo a forma como funcionava, devido à perda de partes importantes que compunham o original, mas estudos ainda são feitos e podem descobrir mais detalhes dessa incrível invenção.



Para mais detalhes sobre o mecanismo, abaixo há outro trabalho do grupo de Freeth e um artigo explicando sobre o conhecimento em cima do mecanismo até 2018:


Tony Freeth and Alexander Jones. "The Cosmos in the Antikythera Mechanism." ISAW Papers 4 (February, 2012) (nyu.edu)


Our current knowledge of the Antikythera Mechanism | Nature Astronomy