Por Giovana Ramon Luiz Neto, Andreza Martin Silva, Sara Rocha de Oliveira, Thayná Fernandes Tavares



1) Como foi o processo de idealização da construção do satélite?


Dra. Rosana: Apesar do Brasil já possuir outros satélites de sensoriamento remoto, a ideia do Amazônia 1 surgiu como um desafio para pela primeira vez se ter um satélite completamente integrado, testado e controlado por brasileiros. Além, disso a missão foi concebida de tal forma que o satélite sempre cruze a linha do Equador, no sentido Norte-Sul sempre as 10:30 da manhã do horário local. Isso garante que as condições de iluminação de uma dada imagem, sobre um dado local, sejam sempre as mesmas, o que facilitaria a comparação entre as imagens. A missão Amazônia 1 também foi concebida com um forte componente tecnológico, envolvendo o desenvolvimento da plataforma multimissão (PMM), a qual reúne em uma única plataforma todas as funções e equipamentos comuns a um satélite.


2) Para você, qual a importância do lançamento do Amazônia 1?


Dra. Rosana: Num aspecto tecnológico, a importância do satélite Amazônia 1 se dá pois pela primeira vez o Brasil possui um satélite de observação da Terra completamente integrado, testado e controlado por brasileiros. Missões anteriores similares foram realizadas por meio de parcerias, como é o caso da missão CBERS, realizada a partir de uma parceria entre Brasil e China. A importância da missão em si está em sua aplicação. O satélite é voltado para o monitoramento do desmatamento na região da floresta Amazônica. Além disso, como ele possui uma alta taxa de revisita (5 dias) pode ter diversas aplicações envolvendo questões ambientais ou até mesmo auxiliar nas atividades agrícolas do nosso país.

 

3) Qual foi o maior desafio enfrentado na sua construção?


Dra. Rosana: De fato, eu não participei do processo de construção do satélite, então não saberia dar detalhes.

 

4) Na sua opinião, o que muda para o Brasil agora que temos o primeiro satélite 100% nacional?

 

Dra. Rosana: Eu vejo que ganhamos independência, reconhecimento internacional e poder de negociação com outros países que tem interesse em desenvolver um programa espacial. Além disso, não se trata apenas de lançar um satélite. Todo o processo envolvido no desenvolvimento da missão desde sua concepção, integração e testes, até seu controle, gera um conhecimento que fica como legado para futuros cientistas da área.


5) Como funciona o processo de monitoramento? E quais dificuldades podem surgir para mantê-lo?

 

Dra. Rosana: O processo de monitoramento envolve basicamente atividades de rastreio do satélite, determinação de sua órbita e envio de telecomandos. No espaço, orbitando a Terra, o satélite está sujeito a diversas perturbações, como o efeito do arrasto atmosférico, da pressão de radiação solar e o efeito devido ao achatamento da Terra. Assim, constantemente é feita a determinação de órbita do satélite a partir de suas medidas de posição e/ou velocidade. Existe um determinado intervalo no qual o satélite deve operar de modo a preservar todos os requisitos da missão. Quando vemos que os limites deste intervalo estão para ser atingidos, realiza-se então uma manobra de manutenção da órbita. 

 

6) São necessários muitos cientistas na área de controle do satélite ou a maioria dos comandos e tarefas são automatizados por conta da   tecnologia avançada?

 

Dra. Rosana: Sem dúvidas a busca pela automatização e tecnologias avançadas é uma constante neste meio. No entanto, esta melhoria visa aperfeiçoar trabalho de operação em si. Atividades que envolvem uma análise imediata de resultados ou tomadas de decisões exigem uma mão de obra especializada. De fato, nenhum comando ou tarefa é executado sem antes passar pelo aval de um especialista da área. 

 

7) Qual será o seu trabalho exatamente relacionado ao monitoramento do Satélite?

 

Dra. Rosana: Como faço parte grupo de Dinâmica de Voo do Centro de Controles de Satélite (CCS) do INPE, meu trabalho agora está relacionado à manutenção da órbita do Amazônia 1. Esta atividade envolve avaliar o estado orbital do satélite, através das determinações de órbita realizadas três vezes na semana, estimar a evolução desta órbita a partir de sua propagação, avaliar o desvio da órbita e estimar quando ele deve atingir um dos limites permitidos para a missão, calcular os parâmetros das manobras de correção da órbita, como tempo de duração e instante de aplicação. Faz parte ainda das atividades diárias a análise de risco de debris, onde é calculado o risco de colisão do satélite com os detritos espaciais. Vale salientar que estas não são atividades que realizo sozinha. Estas atividades atualmente envolve um grupo de seis pessoas. Além disso, atividades similares são realizadas também para os demais satélites atualmente controlados pelo INPE: CBERS-4, CBERS-4A e SCD-1 e SCD-2.


8) Quais serão os objetivos do Amazônia 1?


Dra. Rosana: O objetivo do Amazônia 1 é fornecer dados de sensoriamento remoto para monitoramento do desmatamento da região amazônica. Além disso ele poderá ser usado para monitorar sistemas agrícolas no país, toda a nossa costa oceânica, reservatórios de água, além das observações de possíveis desastres ambientais. Estes dados serão fornecidos gratuitamente a qualquer usuário (governo, empresas, cidadãos) para as mais diversas aplicações, além das citadas acima.


Entrevista realizada pelos membros do Centro Acadêmico da Física ( C.A.Fis) do Campus UNESP - Guaratinguetá/SP:

https://www.instagram.com/c.a.fis/

 Giovana Ramon Luiz Neto - giovana.ramon@unesp.br
 Andreza Martin Silva - andreza.martin@unesp.br
 Sara Rocha de Oliveira - sara.rocha@unesp.br
 Thayná Fernandes Tavares -  thayna.tavares@unesp.br