Por João Pedro Molina e Vitor de Paula Rossi 

    Olá, amigos do Jornal Ciencializando, tudo bem? Nesta edição falaremos de um clássico de ficção científica que, honestamente, deveria ser assistido por todo aspirante às ciências.
O filme em questão é Contato (1997), dirigido por Robert Zemeckis, o longa narra a história da Dra. Ellie Arroway, que desde de criança mostra aptidão e enorme interesse por radiocomunicação e astronomia. Motivada por suas aspirações, Ellie segue a vida acadêmica e, não se convencendo com a impossibilidade de haver vida fora da Terra, passa a integrar o Instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence Institute), cuja principal missão é a compreensão e a busca por evidências de vida inteligente fora da Terra. Ellie, especificamente, compõe um projeto de pesquisa que realiza buscas por meio de sinais de rádio de banda estreita, ou seja, sinais de rádio que ocupam uma parcela muito limitada do espectro de ondas eletromagnéticas, geralmente localizadas em regiões de baixa frequência.
   No decorrer do seu trabalho no grandioso e disputado Radiotelescópio de Arecibo, a cientista foi surpreendida com o corte do orçamento de sua pesquisa, sob a justificativa de que não passaria de uma abstração. De acordo com o chefe da Fundação Nacional de Ciências, Dr. David Drumlim:

 “a ciência deve prestar conta aos contribuintes que a financiam. É preciso parar de gastar com abstrações fantásticas e investir em meios práticos e mensuráveis de melhorar a vida de quem está pagando a conta”. 
 Esse discurso não está, de todo, errado. É preciso visar a qualidade de vida, a segurança e as necessidades básicas da população quando pensamos em desenvolvimento científico. No entanto, quem é capaz de julgar uma pesquisa como “abstração fantástica”? Quem poderá garantir os resultados e aplicações de determinada pesquisa?
Se olharmos para trás, para a história do mundo, veremos inúmeros casos de abstrações fantásticas de pessoas tidas como loucas, que desafiaram os paradigmas da época em que viviam. Em Mileto, na Grécia Antiga, surgiram Tales, Anaxímenes e Anaxímandro, os quais desafiaram as concepções mitológicas da época (600 A.C), dando início à investigação da natureza como busca para compreensão da realidade. Tal movimento ficou conhecido como Filosofia Natural, se ramificando como Ciências séculos mais tarde. 

Do século XII ao século XVIII, diversos cientistas e filósofos foram mortos ou perseguidos pela Inquisição, acusados de profanar a fé religiosa com seus estudos ou ideias. Nesta lista temos Copérnico, Galileu-Galilei, Giordano Bruno, Descartes e diversos outros que ousaram questionar as autoridades e os pensamentos da época. 
Já no século XIX, outro cientista conhecido como “louco” surgiu. Suas teorias contradiziam e confrontavam séculos e séculos de experimentos e teorias realizadas por grandes nomes da ciência. Albert Einstein deu início à Física Moderna, confrontando os preceitos de TODA a Física Clássica e possibilitando todo o avanço tecnológico que presenciamos hoje. Mas, e se alguns desses nomes tivessem morrido antes de publicarem suas ideias? E se Einstein tivesse suas pesquisas encerradas para servir às guerras? Onde e como estaríamos agora?
A lição que podemos tirar é que não sabemos e nem nunca saberemos. A ciência trabalha com os dados e recursos disponíveis na atualidade. No entanto, seus efeitos e seus resultados surgirão, eventualmente, com o passar dos anos. Isso foi exatamente o que aconteceu com a Dra. Arroway quatro anos após conseguir um investimento privado para seguir com suas pesquisas no observatório Very Large Array, no Novo México. 
Certa noite, os radiotelescópios detectaram um forte pulso de rádio vindo de Vega, umas das estrelas mais brilhantes do céu noturno, localizada a 26 anos-luz de distância do nosso planeta. Já passamos por um susto parecido com o Sinal WOW em 1977, porém, nesta ocasião o sinal foi decodificado e para a surpresa de todos, o primeiro sinal alienígena da história seria... TANTANTAAAAN: A transmissão do discurso de Hitler na abertura dos jogos olímpicos de 1936!!!!! Na verdade, como o filme explica, o sinal seria uma retransmissão do sinal recebido pela civilização em Vega, como um tipo de resposta ou uma tentativa de Contato (rs). 
Como os jogos olímpicos aconteceriam em Berlim, durante a vigência do regime nazista, o partido investiu fortemente em tecnologia, transmitindo os jogos para o mundo inteiro através da recém inventada televisão. Essa foi a primeira transmissão forte de TV emitida da Terra. O sinal viajou por 26 anos até chegar em Vega e, depois, por mais 26 anos até retornar e ser detectado por Ellie em 1988. Além do discurso, o sinal carregava uma série de dados que revelariam o projeto de uma máquina que permitiria o contato direto entre as duas civilizações. Imagina QUE LOUCO: eles mandam a mensagem e ainda mandam toda a tecnologia necessária para a comunicação! É claro que isso causou o maior rebuliço.
Na verdade, não poderíamos esperar que a nossa relação com uma civilização tecnologicamente superior fosse assim tão fácil. Olhando para como é a vida em nosso planeta podemos ter uma ideia. Se vistos como inferiores, seriamos observados de maneira similar à forma que enxergamos os animais, com pouca importância ou indiferença. Talvez, quem sabe, seríamos escravizados ou exterminados como foram os povos Incas e Astecas durante a colonização espanhola. Poderíamos, até mesmo, perder nossas riquezas e viver marginalizados em nosso próprio planeta, assim como foram com os índios Norte e Sul-americanos.
Além disso, é possível presenciar no filme uma fiel representação de como a população reagiria a essas questões, demonstrando a desestabilização de bases e matrizes religiosas e sociais, sob as quais a sociedade está construída. Seria prudente o contato? 
Ainda, o longa levanta uma discussão muito boa entre a disputa da Ciência x Religião. Muitas vezes os cientistas usam dos mesmos preceitos da religião e ignoram o processo de autoquestionamento da ciência, apelando para os mesmos recursos de fé e aceitação
De maneira geral, Contato traz questões fantásticas de diversos debates, temas e dilemas atuais. Traz com seriedade e imparcialidade a visão científica, leiga e religiosa sobre um mesmo tema. Além de nos fazer refletir sobre o real papel da ciência ou até mesmo da religião. A busca é realmente pela verdade? O desenvolvimento científico realmente visa a qualidade de vida e é totalmente benéfico? Parafraseando o teólogo Palmer Joss:
“Nós estamos mais felizes? O mundo hoje é um lugar melhor graças à ciência e à tecnologia? Fazemos compras e surfamos na Web mas, ao mesmo tempo, nos sentimos mais vazios, mais sós e isolados uns dos outros, do que em qualquer outra época”. 
O filme reflete essas questões trabalhando em um tema delicadíssimo de vida extraterrestre, sem trazer montagens ou seres exorbitantes como insetos gigantes ou homens verdes, o filme é construído com base em assuntos realmente calorosos, de maneira inteligente e impecável.  Claro que não poderia ter sido diferente, uma vez que o filme é uma adaptação da obra Contato (1985) do grandioso Carl Sagan, onde Ellie carrega os mesmos traços de personalidade que o famoso astrofísico.
                Por fim, Contato se trata de um filme excepcional que deveria ser assistido por todo aspirante a cientista