Por Kelvin Santos



    Hyun Mo Yang é professor titular da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e especialista em bio-matemática, atuando principalmente na área de epidemiologia, fisiologia, agronegócio e câncer.

    Yang graduou-se em Física pela Universidade de São Paulo, possui mestrado e doutorado pela mesma universidade. É livre docência pela Universidade Estadual de Campinas com o título “Impacto da vacinação nas infecções de transmissão direta – epidemiologia através de modelo matemático”.

    Yang possui mais de 100 artigos publicados em periódicos e é autor de livros como “Introdução à epidemiologia matemática” e “Epidemiologia matemática – Estudo dos efeitos da vacinação em doenças de transmissão direta”.

    Em entrevista ao Jornal Ciencializando ele respondeu perguntas via e-mail, sobre suas pesquisas, vida acadêmica e sobre como sua área pode ajudar no combate da Covid-19.

1 – Sabemos que o curso de física é um curso desafiador, e que muitas vezes os estudantes têm dificuldades e alguns até desistem. O senhor possui uma trajetória acadêmica toda na área de física, poderia nos falar um pouco sobre ela? Houve muitos desafios?

    Minha opção por curso de física, imagino, deveu-se à possibilidade de estudar fenômenos da natureza. Aos estudantes que ingressam no curso de física, minha sugestão é não perder de vista a ampla aplicabilidade dos conhecimentos de física. Em todas as áreas. Isso talvez possa estimular estudantes a não desistir do curso, pois muitas situações podem incitar ao abandono. Penso que um desafio foi conciliar trabalhos e outras atividades com curso de física.

2 – O senhor estuda Matemática Aplicada a biologia e a medicina, atuando principalmente na área de epidemiologia matemática. Poderia nos falar sobre sua área de pesquisa e sobre sua atuação?

    Inicialmente, abordei a questão da transmissão de esquistossomose utilizando processos estocásticos ainda no mestrado/doutorado em física. Posteriormente, fazendo uso de modelos determinísticos, estudei diversas questões em medicina e biologia. Tais como propagação de epidemias de diversos patógenos, controle delas por vacina/tratamento/controle biológico, controle de pragas na agricultura, dinâmica de câncer, dinâmica de resposta imunológica. Algo importantíssimo que deve ser lembrado: é área multidisciplinar. Por isso, as aplicações de resultados de modelos matemáticos precisam e devem ser compartilhados com pesquisadores de outras áreas de ciência, com objetivo de sua aplicação na vida real.

3 – Como o senhor entrou em contato com a área?

    Física permite muitas aplicações. A escolha dessa área foi (talvez) por idealismo. Por isso a opção por dinâmica de transmissão de esquistossomose no mestrado/doutorado. Logo depois, tive prazer de atuar na FM-USP em pesquisas na área de controle de doenças de transmissão de infecções que acometem crianças. Esses foram os primeiros contatos nessa área.

4 - Diante da pandemia em que vivemos, vemos muitas notícias falando sobre projeções de como o Covid-19 irá se devolver, e podemos perceber um papel grandioso da matemática nisso. Como matemática é importante em um período de pandemia como o que estamos passando e como ela pode nos ajudar?

    Aplicações de matemática podem ser úteis em muitas áreas, como na dinâmica de propagação de epidemias, em especial, pandemia de novo coronavírus. Mas, com critérios e parcimônia. Por isso, modelos matemáticos formulados apressadamente, sem muito embasamento biomédico, teórico e experimental, podem prejudicar mais do que auxiliar. Projeções catastróficas tendem a assustar autoridades sanitárias, e podem levar a formulações equivocadas de políticas de saúde pública. Covid-19 é uma grande ameaça à saúde pública, mas é uma oportunidade e desafio para pesquisadores de diversas áreas aprenderem como enfrentar situações desconhecidas, como essa pandemia de novo coronavírus. No intuito de colaborar no entendimento dessa pandemia em curso, estudo de covid-19, usando-se modelagem matemática, está sendo feito pelo grupo formado por pesquisadores do IMECC-UNICAMP e HC-FMUSP. São muitos desafios, mas o primeiro deles é avaliar o isolamento decretado no Estado de São Paulo, e como deveria ocorrer a liberação dessas pessoas.