Por Miguel Rangel


Natali Soler Matubaro de Santi é graduada em Física pela Universidade de São Paulo (USP) no campus de São Carlos, onde fez iniciação científica em Física de Partículas, no mestrado pesquisou na Universidade Federal de São Carlos a teoria quântica de campos aplicada em espaços curvos a fim de entender a radiação Hawking e hoje no instituto de Física da USP em São Paulo trabalha com cosmologia observacional.

Pergunta: Como foi essa mudança da física teórica para a experimental?
Resposta: Saí do papel e virei programadora. Essa é a resposta rápida para essa pergunta. A completa é que eu sempre quis algo voltado para Astronomia mas não tinha como vir aqui em São Paulo fazer Astronomia na graduação. Fui para Teoria quântica de campos aplicada em espaços curvos porque tem muita relatividade geral envolvida. Agora em cosmologia estou aprendendo muito do que aprendi em RG (Relatividade Geral) em problemas mais fenomenológicos.

Pergunta: Como é sua rotina na pós-graduação? E como ela mudou em relação à graduação?
Resposta: A rotina em si não é muito diferente. O dia a dia, principalmente no começo do mestrado e do doutorado é bem parecido com a graduação por conta das disciplinas. A grande diferença é no número de matérias, na pós uma disciplina vale por três da graduação. No início da pós, principalmente do doutorado, eu passo a maior parte do tempo adquirindo bagagem teórica e técnica para usar na pesquisa. Além disso, tenho mais afazeres como reuniões de grupo, que demandam uma preparação maior para ocorrer uma discussão bacana. Não tem muito tempo livre também, o trabalho só aumenta.

Pergunta: Nós sabemos que a situação do investimento em ciência e tecnologia não é dos melhores hoje. Como você e seus colegas lidam com isso?
Resposta: Sinceramente, sem financiamento eu não tenho condições financeiras de continuar a pós-graduação. Minha família é humilde e eu não teria outra escolha além de largar a academia caso eu não tivesse bolsa. A bolsa é meu salário, a única diferença é que eu não tenho os "privilégios" de uma carteira assinada. Acredito que a maioria dos meus colegas pesquisadores vejam isso do mesmo jeito. Os que poderiam continuar são aqueles que têm um apoio financeiro da família ou que conseguiram se encaixar no mercado de trabalho simultaneamente. Nas ciências puras ir para o mercado de trabalho é um pouco mais complexo do que eu outras áreas. Até porque não é todo lugar que vai ceder tempo para você trabalhar e pesquisar.

Pergunta: A vontade de sair do país é grande por conta disso?
Resposta: Não sinto vontade de sair do país por conta da falta de investimento em pesquisa. Sinto vontade de garantir investimento em uma área tão quanto o desenvolvimento de ciência, cultura e tecnologia. Mas muitos colegas saíram e sentem vontade de sair do país sim. Principalmente agora.

Pergunta: Você tem alguma mensagem ou dica aos nossos leitores aspirantes a cientistas?
Resposta: A minha dica pra qualquer um que queira seguir a carreira em Física é o fazer se você realmente amar aquilo que você estiver estudando. Ninguém continua no ramo se não curtir muito seu tema de pesquisa!