Por Vitor de Paula Rossi

A Stephane Werner é a entrevistada do mês, ela é graduada em Astronomia pela UFRJ, tem mestrado em Astrofísica pela USP e hoje faz seu PhD em Astrofísica na University of Nottingham, ela aceitou falar um pouco sobre sua vida e carreira na ciência.

 

Observatório do Valongo - URFJ

Vitor - Primeiramente perguntando sobre a pessoa Stephane, estudar astronomia e astrofísica era seu sonho de infância?

 Stephane - Sempre foi, e eu diria que sou um fruto da divulgação científica. Quando eu era criança eu tive sorte que meus pais tinham condições de me dar livros, e eu sempre escolhia os livros de astronomia na bienal do livro. Lembro também que eu assistia o programa “O Universo” na televisão e achava fantástico! Queria ser astronauta, pois não sabia da existência da profissão “astrônoma” quando era criança. Quando eu tinha 5 anos meus pais me deram de presente de natal, uma luneta. Eu não lembro direito, mas meus pais dizem que eu montei ela sozinha porque eles desistiram de montar porque era muito difícil. Até hoje meus pais contam uma história, que uma vez eu estava na varanda de casa e gritei pros meus pais que eu estava vendo a lua. Meus pais vieram correndo e quando foram ver eu estava olhando o telhado da varanda muito de perto e tinham uns buracos e eu achei que era a lua. Confesso que durante o ensino médio pensei em tentar vestibular para engenharia aeroespacial, mas pesquisando sobre o assunto decidi que queria fazer pesquisa em ciência pura e acabei fazendo o ENEM para astronomia na UFRJ.

Vitor - Você disse que fez graduação em astronomia, porém muitas pessoas na área fizeram em física, se algum aluno de ensino médio te perguntasse qual o melhor caminho para fazer pesquisa em astronomia, o que você diria?

Stephane - Essa é uma pergunta muito comum! Semanalmente alguém me manda mensagem perguntando isso. Eu sempre digo que a diferença não é muito gritante, mas ela existe. Depende muito em que área a pessoa quer trabalhar no futuro, mas geralmente alunos do ensino médio não sabem ainda o que querem de forma tão detalhada, o que é completamente razoável. No curso de astronomia tem várias matérias focadas em astronomia que não existem no curso de física, então se você for para uma área de pesquisa em astronomia observacional por exemplo eu diria que a melhor opção é a faculdade de astronomia. Porém, se você vai para física teórica ou matemática, talvez seja melhor uma faculdade em física. Depende muito de cada caso, mas ambos os cursos são caminhos válidos para fazer pesquisa em astronomia no futuro.

Vitor - Você poderia falar um pouco sobre seu projeto de pesquisa atual?

Stephane - Atualmente estou fazendo doutorado na University of Nottingham, trabalhando com a Dr. Nina Hatch. Estamos investigando propriedades de aglomerados de galáxias no universo distante, tentando entender como eles se formaram e como são as galáxias dentro desses aglomerados. Também vamos tentar usar propriedades de protoaglomerados (que estão num universo mais jovem ainda!) para tentar obter pistas sobre a energia escura.

Vitor - Algo que chama atenção com relação a você é o pezinho que você tem na divulgação científica, em que projetos você já atuou ou ainda atua? Pode falar um pouco sobre eles? e o quão importante é para você, pessoalmente e para o público, a divulgação científica?

Stephane - Eu comecei a atuar como divulgadora na graduação, fiz a graduação na UFRJ, no Observatório do Valongo, e trabalhei num projeto de extensão com o professor Rundsthen. Nós  íamos em escolas com telescópios, dávamos aulas de astronomia em creches (já tive uma turma com crianças de 4 anos de idade!) e também tínhamos o planetário inflável no qual fazíamos sessões de reconhecimento do céu. Depois comecei a atuar na divulgação pela internet, surgiu a ideia do AstroTubers, no qual criamos um canal no YouTube para basicamente divulgar ciência da fonte, partindo dos próprios astrônomos e físicos. Atualmente também atuo no Twitter, fazendo threads (AstroThreadBR) e falando sobre curiosidades de astronomia (AstroMiniBR). Meu primeiro contato com a divulgação científica começou muito cedo, eu fazia parte do público. Desde criança eu tive a sorte de poder ter contato com livro de astronomia e programas de televisão de divulgação científica, e provavelmente eu não estaria onde estou hoje se não fosse a divulgação. A divulgação científica é muito necessária tanto para quem recebe quanto para quem faz, o aprendizado de quem ensina dependendo pode ser até maior do que da pessoa ensinada.

Vitor - Você citou o canal Astrotubers, pode falar mais sobre de onde surgiu a ideia, como você entrou e o que acha dos resultados?

Stephane - O AstroTubers surgiu na reunião anual da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) de 2017. Durante a reunião se notou uma necessidade maior de integração dos próprios astrônomos para tentar divulgar ciência. Durante a reunião, conversando com vários colegas do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Rio Grande do Norte e do Sergipe, notamos que seria interessante criar um canal coletivo no YouTube. As vantagens desse projeto são várias. Somos muitos e podemos dividir o trabalho sem ficar muito pesado para ninguém, pois em maioria somos pós-graduandos e temos que nos dedicar a pesquisa. Também temos expertises diferentes e por isso temos um conhecimento coletivo muito mais amplo e detalhado do que uma pessoa só teria. Além disso, temos a oportunidade de divulgar nossos próprios trabalhos, divulgando ciência diretamente da fonte. Eu fiquei bastante surpresa com o crescimento do canal e acolhimento da comunidade de divulgação do YouTube. Hoje temos uma parceria com a SAB e com toda a galera do Science Vlogs Brasil.

Vitor - Você também falou sobre os projetos AstroThreadBR e AstroMiniBr, pode nos falar um pouco sobre eles e os seus objetivos ao fazê-las?

Stephane - A AstroThreadBR é uma forma lúdica de se fazer ciência usando a plataforma do Twitter através dos threads. No caso do AstroMiniBR, falamos sobre curiosidades de astronomia em um único tweet. Meu objetivo em fazer parte desses projetos é divulgar ciência tentando ter uma linguagem acessível ao público e dependendo até usando do humor para isso. Cientistas precisam se adaptar ao seu público para repassar o conhecimento.

Vitor - Mudando um pouco de assunto, ao longo de sua Carreira acadêmica você se mudou bastante, graduação na UFRJ, Mestrado na USP e agora o PhD na University of Nottingham, quais foram os principais motivos que te fizeram mudar de cidades, instituições e até mesmo de país para estudar? Quais as principais vantagens e desvantagens para você?

Stephane - Essa é uma questão difícil e bastante pessoal, acho que esse tipo de escolha varia muito de pessoa para pessoa. Eu gosto de mudanças e acho que elas fazem parte da vida. Conhecer novos institutos, novas pessoas, aprender com professores diferentes me fez crescer muito academicamente. O networking é algo muito importante na carreira acadêmica e acho que mudar de institutos e universidades faz com que sua rede de possibilidades aumente muito para o futuro. Acho que a principal vantagem é conhecer novas pessoas e novos lugares, e ter oportunidade de aprender com pessoas diferentes. A principal desvantagem, ao meu ver, de mudar sempre é a saudade, você aprende a viver com saudade de tudo e todos. Outra desvantagem é que isso pode interferir na pesquisa, é mais fácil prosseguir com um projeto de pesquisa com alguém que você pode ver toda semana pessoalmente.

Vitor - Como foi e como está sendo sua rotina na pós-graduação? com relação tanto a horários quanto a vida social

Stephane - Acho que isso varia muito em que momento eu estou e deadlines. Por exemplo, no fim do mestrado eu não tinha tempo para quase nada, foi bastante complicado. Mas, por exemplo, agora do começo do doutorado eu só estou tendo que me dedicar à pesquisa praticamente, então eu tento fazer tudo que planejo com minha orientadora para semana e fim de semana tento fazer coisas não relacionadas a trabalho diretamente. E importante ter uma vida social e fora do trabalho para a saúde mental.

Vitor - Sabemos que a situação política no Brasil não é nada favorável à ciência hoje, isso pesou na sua decisão de sair do país para o PhD?

Stephane - Isso teve sim um peso considerável, visto que quando eu estava no mestrado não sabíamos se íamos ter bolsas de doutorado. Mas confesso que esse não foi o único motivo, eu já planejava fazer um doutorado fora desde a graduação, eu sempre quis essa experiência de viver em outro país e poder aprender inglês na prática, falando todos os dias. O inglês é usado diariamente por estudantes de pós-graduação em astronomia, ter a oportunidade de viver em um país com o inglês como língua nativa é algo que eu não poderia deixar passar para melhorar meu uso da língua.

 

Se quiser entrar em contato com ela pode utilizar o email stephanevazwerner@gmail.com ou por meio do twitter @stephanevw.